sexta-feira, 16 de junho de 2017

Feira do Punk de Lisboa

A Feira do Livro de Lisboa é uma babilónia literária. Um paradoxo total de editoras que alimentam fraudes (Chiado), lixo (Leya) e merda total (cristianismo e cientologias). Mesmo a Tinta Da China é suspeita devido à BD que edita, restam as únicas que merecem o meu dinheiro: Letra Livre, Antígona, Relógio D'Água e pouco mais... Talvez por esta minha atitude pseudo-elitista que já arranjei mais discos do que livros por aquelas bandas...

Directamente com a BD saiu um novo LP dos Dirty Coal Train - os mesmos que participaram no recente Punk Comix CD - em que fazem um "back to basics", isto é, a banda começou como um casal, expandiu-se para sei lá quantos elementos e actualmente voltaram a duo. Neste Kirby Demos (2017) na realidade as gravações são do início mesmo, quando o casal andava a descobrir caminhos e gravavam temas dedicados ao Jack Kirby (1917-94), autor de BD norte-americana que fez o "template" de quase todos os super-heróis. Garagice primitiva e lo-fi também ela em modo "template" do género, é sem dúvida uma peça de colecção para qualquer cromo da BD e Rock, essas duas artes marginais do século XX. O Camarada João Maio Pinto fez a capa que se transforma num gigante cartaz cheio de criaturas replicadas de Kirby. Só ele é que podia fazer uma mimetice destas.

Miméticas são muitas nos últimos dez anos, uma delas é do homem e a sua guitarra desde que o Norberto Lobo tornou o "estilo" fixe outra vez. O Gajo era dos míticos Corrosão Caótica, actualmente dos Gazua e estreia-se com Longe do Chão (Rastilho) num modelo impossível de não o meter nas caixas de Paredes ou Fahey. Ou seja, Folk mais urbano ou menos rural, tanto faz... Depois ainda há os chavões lisboetas que os secas dos Dead Combo impingiram neste tipo de música instrumental. Pior, é para quem os segue, enfim...
A gravação merecia um toque "lo-fi", ou seja, um bocado de ambiente caseiro para dar um calorzinho ao CD que bem o merecia porque o gajo explora ambientes andaluzes e arabescos (oba oba!) mas o tom geral é o cinzentismo português tal como a embalagem do disco indica - embora deva dizer que sendo uma embalagem modesta é catita, melhor que muitos luxos que andam por aí... A guitarra está sempre "à frente" fazendo que ela sature e se dilua por mais que o gajo seja dinâmico a tocar. Mesmo com mais elementos que aparecem nas músicas não conseguem abalar a guitarra, infelizmente até se tornam kitsch como o caso do som do navio em Navio dos Loucos. O Gajo já fez tantas na vida que devia quebrar as regras invés de as seguir!

Se homens e guitarras cheira a andropausa precoce o estilo Oi! já nasceu velho nos finais dos anos 70 em Inglaterra. Música de proletários, anti-racista, anti-artsy-fartsy, juntou punks e skins ou quem nada queria com isso. Som que está pronto para pints e bola - moral e tremoços se for em Portugal.
Oi! Um Grito de União vai no quarto volume depois de passarem 17 anos desde que o último volume saiu. Nos anos 90 chegou a ter capas do Angeli da tão bem-amada revista Chiclete Com Banana, agora tem um amador que corta a palavra Portugal e tudo... Ainda bem que o nacionalismo desta malta passa apenas por fotografias com castelos por trás senão dava merda entre portugueses e brasileiros! Sim, são cinco bandas brazucas e cinco tugas, cada uma com dois temas mais ou menos inéditos. Vamos encontrar os Grito! que entram também no Punk Comix CD (logo a abrir e a fazer o erro de misturar BD com desenhos animados - isto no CD do Punk Comix...), Facção Opposta e os brasileiros Sindicato Oi! que visitaram Portugal estas últimas semanas. Para quem gosta de punk básico, este é um CD de uma hora cheia de não-inovação e fantasia urbana - falam de realidade mas não oiço nada que fale sobre proletariado em 2017... A editora tuga deste disco é a camarada Zerowork.

Ainda tenho domingo para comprar livros, ufa!

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