quinta-feira, 30 de julho de 2015

Milhões de Índios Cocaleros





Mais um Milhões de Festa! Ou talvez o melhor ou o mais equilibrado que já assisti em que houve todos os dias e noites bandas com alta energia. Este festival distingue-se dos outros porque é feito por quem gosta de música e é por isso que os Drunk in Hell na noite de Sábado invés de andarem à porrada num pub como devem fazer sempre foram convidados a saírem de Inglaterra pela primeira vez para tocarem o seu Sludge autista com saxofone ruidoso num dos palcos principais e à noite. Não haverá outro festival que se arrisque a tal, ou seja, a trazer uma banda estrangeira desconhecida até na sua própria terra para um "horário nobre". Logo a seguir foi o velho Michael Rother que deu uma lição de Rock instrumental em que espero que as 60% das bandas que costumam ir tocar ao Milhões aprenderam de vez como se faz um espectáculo deste tipo de som para deixarem de ser redundantes...  E se o Islam Chipsy tivesse tocado teria sido um BILHÃO de Festas, mesmo! Mas os egípcios cancelaram por problemas no aeroporto de Cairo. Raios!

Com consciência que o Rock é uma expressão cosmopolita e que isso já não significa vir de Londres e Nova Iorque, o Milhões explora todas as contaminações globais mesmo que os projectos estejam mesmo ao lado de Barcelos como os portuenses HHY & The Macumbas que na noite anterior cumpriram o tripanço necessário num festival de Verão, cada vez mais densos e demolidores no seu Dub Voodoo. O Porto por ser uma cidade toda fodida criou esta escola de bandas de destruição maciça como os Plus Ultra onde está Gon - o vocalista dos extintos e saudosos Zen e um verdadeiro arruaceiro em palco. Foi para mim a melhor banda do festival, um power-trio super-oleado, pesadelo para o técnico que cuida do palco e com um som que soa a tudo mas consegue de alguma forma ser novo. Com breaks e composições sofisticadas, tudo isso sai ao vivo como se fosse tocado pela primeira vez, como se fosse improvisado mas o mais provável é que foi ensaiado mil vezes. O que quer dizer que em Portugal se confirma que só os Zen e agora estes Plus Ultra perceberam que o Rock e o Blues são músicas de libido e libertação, que é música para ser vivida como se não houvesse amanhã! Só posso chegar à conclusão que é esta a única banda de Rock portuguesa, e que tudo o resto que anda por aí são trapaças do Fado. Propunha pró ano, o Milhões anunciar os Death Grips como cabeça de cartaz, depois avisavam que eles cancelaram a vinda (o que não seria de admirar como bem se sabe, os Death Grips fartam-se de fazer isso) e colocavam os Plus Ultra como substitutos, ninguém iria ficar chateado... Existe uma k7 da banda lançada pela Tapes, She Said que é de aproveitar enquanto há! Objecto curioso pela embalagem (um livro com as laterais coladas e o interior cortado para caber a k7) e que sabe a pouco, mesmo muito pouco (4 temas, 14 minutos apenas!)...

Mas o que se deve dizer deste festival é que pouco interessa se conhecemos as bandas ou não que vamos lá ver / ouvir, muitas vezes mais vale a pena nem saber de nada! É verdade que podemos encontrar uns padeiros do Doom como os Hey Colossus (seca!!!) mas somos compensados pela festa "transgender" dos Golden Preacher ou o bafo sonoro de The Bug ou os outros exemplos acima destacados. Convém ir de coração aberto para um mundo de sons sem fim e livre de preconceitos. Esta é a razão porque que a Chili Com Carne - e agora acompanhado pelo Xavier Almeida e a Signal Rex - meteu-se mais um ano a vender livros, no palco Taina. O Milhões é um "melting-pot" de estéticas tal como a Chili também o é. Daí a parceria, para quem tinha dúvidas...

capa do CD-EP M'boi Mirim dos TEST
Por fim, no palco Taina, o destaque deste ano foi para as bandas brasileiras de Grind D.E.R. e TEST, que fizeram a proeza de no final de TEST tocarem as duas juntas ao mesmo tempo e no mesmo palco usando o mesmo baterista no meio delas. Uma banda tocava para as colunas esquerdas, outras para as da direita, o barulho de uma abafava a outra enquanto o publico ia de um lado para o outro ouvir uma banda ou a outra. Cara, o "metáu está ficando conceptáu! 

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