terça-feira, 24 de maio de 2011

Ego tripas

Uma série de vinis que foram adquiridos nos últimos meses.

Começamos pelo mais irónico, a Thisco finalmente lançou um disco! Um disco em vinil claro porque o catálogo têm cerca de 50 referências em CD, para não falar nos livros da colecção THISCOvery CCChannel. Trata-se de uma colectânea de música electrónica (claro!) intitulada This is Thisco - embora a piada é que não é Disco(sound). Aliás, quem participa são os "suspeitos do costume" que já editaram vários CDs a solo ou participaram noutras colectâneas da editora - com a vantagem que se pode ouvir o disco em rotações erradas e por isso ouvir uma versão mais acelerada das colaborações!
É bom ver os espíritos individualistas dos artistas da Thisco - tipos complicados para convencer a tocar ao vivo, por exemplo, tendo no passado colocado plataformas de promoção como o Samizdata Club em risco - se tenham juntado para criar um objecto (vermelho) desta natureza. Era bom é que não ficassem por aqui, que se organizassem mais e organizassem mais acções. De resto, pouco há dizer, excepto que M-PeX esconde completamente o Fado / guitarra portuguesa e realça o Electro, Thermidor avança para algumas batidas, shhh..., Structura, Mikoben Krieg e Sci-Fi Industries mantêm-sem boa forma, ... nota alta para a participação de Euthymia com o japonês Kenji Siratori, verdadeira banda sonora sobrevivência pós-catastrófica.

Não sei se estes tempos individualistas podem ser contabilizados pelo mundo da "música urbana" mas a verdade é que não só os gajos da Thisco que se apresentam com projectos de apenas um tipo em frente de maquinas que fazem barulho ou música ou lá o que é... No Rock há muito que se vê "one-man-band" por aí, desde o nosso "Legendário Homem Tigre" ao Festival francês RMI-Brica (ver Boring Europa, página 111). Em Espanha, doidinhos pelo Rock como são, também tinha de haver "mono-bandas" como o Tumba Swing, gajo simpático que toca guitarra e bateria ao mesmo tempo em concertos suados mas não quando desenha bd e edita zines e discos. Conhecêmo-lo na Tour Europeia da CCC e recentemente estivemos com ele no Edita 2011 onde nos arranjou o seu EP de estreia homónimo - editado pela Calamidad este ano - com 6 temas que vão do Blues selvajem à badalada de Cowboy choramingas. Uma javardeira de Rock'n'Roll que até convence...

E depois há casos ainda mais estranhos como o single (Dog City; 2011) dos Morte Forte, banda de Cascais que achava o Rock deveria ser perigoso, energético, sujo e niilista como os Turbo Negro fizeram questão de relembrar a quem estava atento nos anos 90. 

Gravado em 2004 e não tendo a banda chegado a lugar nenhum (nem a tira de bd!) pergunta-se porque aparece este tipo de edições... Uma vontade de exercitar a memória? De documentar um falhanço? Talvez justifique que a capa e a contra-capa meta fotos do falecido Renato... Porque não?


Estrategia Lo Capto! com o LP Gran Bola de Nieve (Burka for Everybody; 2011) está no caminho certo do Post-Rock com algum Surf instrumental em formato Power Trio. Talvez possa ser colocado algures entre algum álbum dos Trans Am e outra coisa qualquer coisa sónica dos anos 90. Acredito que seja banda para se ver ao vivo e depois comprar o disco e não o contrário. Há quem goste, eu nunca gostei, talvez porque desde logo no início do "pós-rock", os Cul de Sac já tinham avisado que haveria pouca alma por estas movimentações "roqueiras. Não serão estes valencianos a mudarem a ordem da estrutura macro nem micro. O desenho da capa foi feito por uma destas pessoas - se acertar qual ofereço o álbum! Na boa...

Por fim, e na realidade até foi o primeiro vinilo que comprei desta fornada, Stone (Tremor Panda; 2011) dos alemães Don Vito & Abraxas Apparatus é uma batalha de Noise Rock (dos primeiro, power trio brutal) e Noise electrónico que resulta bastante bem, especialmente sabendo que a sessão foi improvisada. White Noise extremo intervalado por arranca-e-pára de Rock matemático. Vi os Don Vito no passado dia 5 de Abril no Berlin (bar no Bairro Alto), com os franceses Pneu, onde mostravam uma germânica atitude de tocar Rock barulhento com garra epiléptica. Ao contrário dos espanhóis estes alemães assumem mais sentimento e pujança latina, talvez daí o nome Don Vito? 
Mal sabia que estava a comprar um mini-LP de confronto sonoro e se é verdade que preferi este 10" do resto da oferta dessa noite (é bom comprar discos a bandas em tournê, aprendi isso muito bem com a Tournê Europeia da CCC) foi também pela capa em serigrafia que parecia ser de desenho escatológico do francês Craoman... e era! O mundo está cada vez mais pequeno. Bela edição, bom concerto e bem merecido dinheiro gasto numa Lisboa com salas merdosas e mercenários de promotores - esta noite foi uma excepção à treta dos concertos da ZDB e outras porras...

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