sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Nos jardins de Neuromancer


Sorry Stars (Ed. de autor; 2016) é um LP de Van Ayres candidato a ser o disco de 2017 em Portugal caso não tivesse saído em Outubro de 2016, sendo que andou a sua comercialização andou a ser arrastada até hoje devido a um ligeiro erro de impressão da capa. Este é daqueles discos que me faz sair da letargia de escrever sobre música neste blogue (ou no Mesinha de Cabeceira) porque Ayres tem essa capacidade de iluminar caminhos sejam eles sonoros, gráficos e narrativos - alguém ainda se lembra da bomba que foi Lençóis Felizes?
De vez em quando, seja um Mr. Burroughs (Círculo de Abuso; 2000) ou os discos de Allen Halloween dou-me conta que as melhores criações artísticas não vem obviamente nem dos meios oficiais nem da "cafetrice" das famílias "indies" mas das margens ainda mais à margem, aquela que obriga a 100% de independência e que o autor tem de pegar o boi pelos cornos. Sorry stars é uma fotografia desta década - por alguma razão que todo o grafismo do disco é feito de imagens fotográficas - em que a Electrónica balança de trás para a frente, de passados épicos do Techno e House para relaxados ambientes cyber, fazendo sínteses Hegelianas e outras manobras retro-futuristas. Um bocado como os panhonhas da Hyperdub fazem mas sem o cinismo da falta de futuro ou o excesso de depressão urbanística. Surpresa, Ayres qual Enya dos Bijagós diz-nos que que há mais coisas na vida nem que seja um temporário bling bling pós-freakista que custa a engolir para os existencialistas desiludidos que andam praí.
O som em vinil está gigantesco, em que o Rabu Mazda (um Cafetra boy que costuma actuar com Ayres ao vivo) deve ser o grande responsável para clareza e pujança da produção sonora. Sim, é daquelas coisas que se tem ouvir com o espaço do analógico. Na compressão do digital o som passa ao estatuto de pila frouxa após uma banhoca na praia em Janeiro.

PS - O disco em rotações mais rápidas também é bom, isso é raro acontecer nos discos. Foram avisados!

1 comentário:

Van Ayres disse...

Sorry Stars* mas também curto de Silly Stars eheh tá fun! Escolhe o que curtires mais!