quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Dona ao quanto obrigas!

Estivemos na Dona Edite e adquirimos algumas novas peças editoriais que nos parecem bem importantes mesmo com alguns anos de atraso!

A começar desde já com o CD-R "deluxe" do Presidente Drógado que finalmente tem uma edição decente mesmo que seja um mero CD-R. Depois de quatro CD-Rs modestos e com grafismo manhoso pela Leote Records, eis Presidente Drógado e a Banda Suporte / Burning Sessions (AI + Burning Desire; 2015) num registo ao vivo nos estúdios punk do Camarada Buga! Seis temas com uma banda bem oleada - a mesma que se apresentou no lançamento do Bestiário Ilustríssimo 2 - em que o habitual e valente "narco-humor" ganha uma dimensão sónica maior que a apresentação "voz + guitarra" como nos habituamos a ver - e como ainda vimos no Sábado passado no concerto dado na Dona Edite. Não que o aspecto de um objecto seja mais importante do seu conteúdo mas é verdade é que há muito que o Drógado merecia o mimo de ser editado com algum requinte. É o caso desta edição em que apesar de termos de gramar com um manifesto DIY do Buga (meu, que melga solipsista! quem quer saber dos teus atrofes?) está com uma excelente apresentação: capa em serigrafia, letras impressas, ficha técnica, etc... Parabéns a todos!

Que luz estarias a ler? (Xerefé; 2014) de João Pedro Méssefer e Ana Biscaia é uma brochura que expande a BD já publicada na nossa antologia Quadradinhos a preto e branco embora a publicação fosse a cores - talvez os autores tiveram urgência a trabalhar neste conto que se situa durante os bombardeamentos israelitas na faixa de Gaza  no Verão passado em que assassinaram 500 crianças.
No meio de destroços e brutalidade humana, uma miúda salva alguns livros da sua escola. Para muitos tornou-se uma Heroína ou no mínimo um ícone pois por muito que os "nazionistas" tentem mostrar os muçulmanos como selvagens terroristas ou bestas fanáticas - quando na melhor ironia geopolítica, sabe-se que Israel apoia o Estado Islâmico para desestabilizar os seus vizinhos árabes - esta miúda apontou para uma imagem totalmente contrária. A da resiliência e da consciência da necessidade de criar um futuro em que o acesso à cultura é essencial. Méssefer e Biscaia poetizaram o acto... muito sinceramente dada à barbárie e esta "pequena luz", o que poderiam eles fazer?


Por fim, adquiri o último disco de Bernardo Devlin, Sic Transit (Nau; 2012), o álbum mais Pop deste "composiautor" - é que a expressão "cantautor" remete a freakalhada anacrónica! É considerado, pela crítica especializada, como o disco mais acessível de Devlin e percebe-se porquê, realmente as músicas assemelham-se a Pop/Rock ou um post-punk qualquer de 1982.
A questão é que não há nenhum disco de 1982 ou dos anos 80 em Portugal que soe a este. Ninguém conseguiu fazer algo assim, com esta qualidade...
Claro que pelo facto de me referir a "pop/rock" não significa que a música passou a ser "pateta alegre"! A negritude de Devlin está sempre presente com a sua voz de barítono à Scott Walker embora o tema A Nova Europa traga um estranho humor aos seus textos, se ele já existtias em álbuns anteriores era imperceptível. A música deste disco ao mesmo que tempo que é sofisticada e bem produzida tem um "feeling" primitivo pela repetição Pop/Rock, com o piano serve de guia dinâmico, afastadas as orquestrações dos outros discos. Música misteriosa a descobrir passados três anos...

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