quinta-feira, 14 de julho de 2011

MÁ ONDA E SUJIDADE #5

No contexto de algumas novas editoras de noise vindas da Suécia, surge a Jartecknet, que edita exclusivamente cassetes e que vem revelado, com particular consistência e bom gosto, uma série de projectos recentes, a imensa maioria provenientes do seu país de origem (a excepção à regra até à data é "The Vanity Set", dos dinamarqueses com ligações à Posh Isolation, Damien Dubrovnik)

Originária de Gotemburgo, é conduzida por Viktor Ottosson (Street Drinkers / Attestupa) que é também metade da editora de vinil Nattamaran que partilha com Dan Johansson (Sewer Election / White / Dog Holocaust / Heinz Hopf, entre outros) que depois da lendária Harsh Head Rituals, aponta agora energias (ao nível da edição) para a Ljud & Bild Produktion.

A Jartecknet é maioritariamente focada em projectos novos ou mais obscuros mesmo no contexto em questão, não especialmente ruidosos mas carregando uma particular atmosfera de doença e negrume, encarnando direcções novas (e mais interessantes?) no seguimento do que, de alguma forma, se iniciou com um Sewer Election pós-"The Killing Sessions".

Agora que a editora / espaço Utmarken encerra após 3 anos (para a despedida há um lançamento que reúne alguns dos mais activos intervenientes da Gotenburgo contemporânea do ruído) será curioso entender como irá evoluir a cena local a partir da ausência deste pólo aglutinador.

Pela Menstrual Recordings temos "SPLAT-TV", uma reedição particularmente relevante para compreender e reavaliar a cena italiana do death industrial / post mortem iniciada nos anos 90 e que se tornou vestigial depois do vazio deixado pela morte de Marco Corbelli (Atrax Morgue / Slaughter Productions)

O lançamento em questão reune os vídeos , a maioria dos quais editados originalmente em quantidades incrivelmente reduzidas, do projecto de Moreno Daldosso, Murder Corporation, provavelmente o único em Itália a conseguir perpetuar o legado sanguinário dos Mauthausen Orchestra no seu pico - entenda-se, a fase de 1982 a 1986.

Como documento histórico, e para os seguidores obsessivos da ultra-violência italiana, é incontornável. Como objecto "fílmico", tem evidentemente os seus momentos altos e baixos, a realçar pela positiva "Nacht und Nebel" e "Criminal Inside", e a apontar como algo menores, a maioria dos vídeos do final da década.
Nada de novo quanto ao imaginário e às fórmulas exploradas, como seria de esperar, mas dificilmente igualável em termos de intensidade e desconforto, mesmo que algo datado por vezes. Como bónus, mesmo para quem já pudesse ter visto alguns dos vídeos na sua versão original, temos um inédito, "Des Morts" de Mortar, um projecto paralelo, menos explosivo mas nem por isso menos visceral, e que é provavelmente a mais perfeita tradução visual do que é o post mortem industrial.

Lançado em duas versões, uma em DVD-R, e uma outra edição especial em VHS e com uma cassete áudio que contém a banda sonora completa.

A par da Corpse Without Soul, e de bandas como Horrid Cross e Divisions (que teve também recentemente editado um belíssimo documento final) , Evan Dawson edita ainda a zine Irradiated Corpse, transversal em termos de género - do black metal ao noise, percorrendo os despojos entre ambos - e de estética cuidada, na continuidade do que tem feito com as suas edições musicais. As entrevistas revelam conhecimento aprofundado das bandas sobre as quais se focam e muitas vezes apontam para reflexões pertinentes relativas às possibilidades da criação e edição subterrânea nos dias de hoje, e as críticas são especialmente interessantes, pelo seu desapego a certas fórmulas recorrentes, na escrita e na análise. É ainda um documento visual que acompanha de forma exemplar o trabalho já realizado com os artworks na editora e alguns cartazes para concertos.

A antecipar com particular expectativa o terceiro número desta publicação, assim como os primeiros lançamentos em vinil, que serão editados em parceria com a Fallow Field (editora de Jason Wood - Order of Nine Angels / Grinning Death´s Head) surgida depois da Satan´s Din, aquela que foi sem dúvida uma das melhores editoras de HNW, e que deixou um legado exemplar durante a sua curta existência.

Mais um foco de interesse no black metal contemporâneo, e mais uma vez, navegando e operando por coordenadas limítrofes.

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