sábado, 12 de junho de 2010

Uma arte a fritar!


Até começa bem com a reprodução da capa do último MdC (hahaha) mas depois é só tolices: "banda desenhada nacional prefere crescer à margem das grandes editoras" - prefere? Ou será não tem outra escolha?

A preferência dos autores porque «as "pequenas" são uma alternativa interessante, pela liberdade temática, estilística e de formato que permitem» (afirma Nuno Duarte no artigo) ou porque tem «maior controlo sobre o processo» (Miguel Rocha) poderia ser interpretado como algo positivo, de um entendimento maior entre o autor e o editor em criar melhores objectos editoriais, caso a maioria das obras não roçassem a mediocridade a vários níveis e que obviamente nenhuma "grande" editora gostaria de publicar estas coisas - embora a Asa fosse capaz ou a Tinta da China a julgar pelo indiscritível Dog Mendonça & Pizzaboy.
Se calhar até há mérito nas pessoas envolvidas no mundo da bd que acreditam no que fazem e que lhes dá uma dimensão artística que doutra forma não teriam. Quero dizer com isto que a crença num formato independente estimula o romantismo sobre a Arte que todos sabem que só é boa quando "não é entendida no seu tempo" - ao que parece é cool ser artista "maldito" sabe-se lá porquê... A militância nestes tempos em que não se acredita em nada poderá ser outro ponto positivo, claro. Mas o que interessa aqui é a a pergunta que não foi feita, e que seria quantos destes autores foram a uma "editora grande" propor os seus trabalhos?
Depois sem uma análise crítica das obras como validar a sua "marginalidade"? Querendo meter tudo no mesmo saco, como fazem sempre os "divulgadores / críticos / coleccionadores", apenas porque as editoras são "pequenas" este artigo comete o erro de não perceber que existem objectivos programáticos em cada "objecto": o Venham +5 e Toupeira Comix são publicações institucionais (da Bedeteca de Beja / Câmara Municipal de Beja) que investem em "talento local" (fora do "baralho marginal" portanto), o Lisbon Studio Mag é um portfolio de um atelier de autores comerciais (fora do baralho), o Zona quer mostrar novos talentos - estará dentro do baralho? E o Seitan Seitan Scum ao publicar os (re)conhecidos Filipe Abranches e Fábio Zimbres é o quê? (não sabe / não responde - na realidade apesar de nos terem sido enviadas perguntas para a realização deste artigo não chegamos a tempo de as responder) O que se pode acrescentar mais a esta "marginalidade"?
A bd portuguesa voltou à pobreza pública neste novo milénio, as tácticas são de sobrevivência que lá porque sejam "pequenas" não significam que não sejam "comerciais", basta pensar que uma das casas editoriais é antes de tudo uma livraria de bd - falo da loja Kingpin Books. Acredito que economicamente que muitos destes projectos até poderão crescer competindo no mercado com as "grandes" porque serão mais inovadoras e estarão a preencher nichos de mercado que as grandes tem deixado em aberto.
Editoras e autores "marginais" só são por estigma da bd em geral, não pela "raison d'être" dos conteúdos e das qualidades das suas obras, e por isso acho que vale a pena separar as águas.
Quanto ao "fervilhar de criatividade" referido pelo Paulo Monteiro (Director da Bedeteca de Beja), acho que merecia outro "post". Não parece que o Hans ou os outros títulos sejam capazes de fervilhar seja o que for mesmo que "aplaudidos pela crítica".

1 comentário:

.I. disse...

Portugal não é um país de BDéfilos mas sim de BDmecos (trocadilho óbvio com badamecos, no sentido pejorativo), que se importam com uma coisa e uma coisa apenas. Nem vou dizer o que é porque não tem interesse algum.