sexta-feira, 4 de junho de 2010

It's the sound of the beast!

Foi divertida - modéstia à parte - a Festa dos 10 anos da MMMNNNRRRG. Boas bandas a tocar para o delírio colectivo e tudo o mais... Infelizmente só não acabou tudo à porrada como sugere a capa de Patine (JOPRec; 2010), último álbum de Ghuna X. Isso é que era, hein?
Depois da euforia vem a ressaca metafísica e os restos de comida psíquica - para mim, são uma série de discos trocados durante o Mercado do Livro realizado no Sábado à tarde que comecei a ouvir durante a semana passada... É tanta coisa que só agora dá para divulgar!

Começando pelo referido Ghuna X, antes demais, deve-se dizer que o disco é "online" e não físico. Por isso começo pela excepção à regra. Muitos destes temas foram tocados na Festa e revelam um trabalho funcional de Ghuna X pelo Dubstep - ao contrário do seu álbum anterior. Este "disco" mostra que não é preciso estar em Londres para fazer-se bem ou melhor que as compilações Steppa's Delight. E a provar isso, o destaque vai para a malha k7 (m7 remix) que junta a voz rapada & durona de M7 (das Sygyzy). O formato não será novo - basta lembrar Ladybug - mas os resultados são diferentes. Aqui junta-se a má-onda rapada da tipa com a maldade sonora do Ghuna X. Sendo uma colaboração furtiva dá vontade logo em questionar duas coisas, uma era saber quando tocarão o tema ao vivo (isso é que era!) e dois quando é que as gaijas Sygyzy deixam de fazer "mix-tapes" manhosas - os vossos DJ's são uns pussies, caragu! - e avançam para o som do século XXI?

Indo para o físico, eis um disco bastante físico mesmo!!! Live at Adolf 666 (Soopa; 2010) de John Hegre & Marcelo Aguirre & Die Polizei é um documento ao vivo de um concerto de dois crominhos no domínio Improv e Noise - Hegre é dos Jazkamer! Ao que parece uma bateria e guitarra podem ser bastante barulhentas e trazer problemas com a polícia. Aqui ficamos a saber que sim. Primeiro ficamos ouvimos realmente que havia razões de queixa - a música é lixada de se ouvir não tenhamos dúvidas, na sua desconstrução sónica em que eventualmente ainda podemos chamar de Rock e de Jazz, vai a coisa em crescendo até aos 21m quando uma voz autoritária da Polícia interrompe o concerto. Até ao final do CD-R ficam 10m de som improvisado pelos dois músicos mas... baixinho e atmosférico. Muito mais simpático assim, será que os artistas aprenderam a lição?


O que tem o single Legba/ Houmfort de HHY & The Macumbas e H e x a c o s i o i h e x e c o n t a h e x a f o b i a dos Besta Bode em comum? Três coisas, ambos são singles em vinil editados pela Soopa, as capas são ilustradas e serigrafadas (a de Besta Bode é do José Feitor) e ambos projectos tem Jonathan Uliel Saldanha nas fileiras - e que também lançou em nome próprio o CD The Earth as a Floating Egg (Balleteatro + Soopa; 2010). Os três projectos antes de estar aqui com descrições dos géneros de música (ou as suas contaminações), o mais importante ainda é o facto de todas elas terem uma sofisticação, originalidade e produção fora do comum em Portugal, quer na música propriamente dita, quer na produção (gravação) e os objectos fonográficos.
HHY & Macumbas é Dub com música Voodoo, uma verdadeira valsa estilizada de percurssão analógica e digital, quem devido ao pouco tempo do single não levantará os espíritos convocados - para isso seria necessário Kuduro e usar os 80 minutos da tecnologia CD. Curte-se mais do que se transa mas creio que poderá depender das drogas a consumir.
Besta Bode é uma mixórdia simpática de Grindcore com Electrónica atrofiada, que fãs de Locust poderão gostar apesar de não atingirem os seus excessos olímpicos. Ou então lembra algum Industrial Metal (Skrew? Fetish 69?) mas idealizado pelo Stockhausen depois de fazer um pacto com o Diabo. Se meterem o disco em formol como fazem nos museus regionais com as aberrações da terra - o porco com 5 patas, o cavalo de 2 cabeças, esse tipo de coisas - daqui uns anos os Besta Bode poderão vir a ser um case-study...
Por fim, o The Earth (...) é um trabalho para uma peça de dança em que todos os clichés de Improv, Experimental, Electrónica, Contemporânea, Ambiental, soundscape, concreta são triturados num trabalho de grande nível em que ainda Jonathan consegue impor um excerto de Metal ou vocalizações de "ópera digital". É um disco "slow food"... Há que se ouvir com atenção e não enquanto se faz o pequeno-almoço ou se está a esfaquear um ministro. É um disco tão bom que acho que vou fazer uma limpeza étnica a uma série de discos em casa - este disco substitui muitos como a Fake Mistress, Brian Reitzell, KK Null e sei lá o quê... AH!
Não sei porquê mas de alguma forma este disco complementa-se com as ideias do Most People Have Been Trained To Be Bored e como tal são dois que vão escapar às limpezas étnico-fonográficas!

Mudando de sector: Legião de St. Combadão e o único registo possível: Tempo em que havia respeito (Roilnoise, 2009?) que para quem gosta de Industrial Noise e Ranchos Folclóricos Lusos - melhor que futebol e Noise, não?
Não sei se o casal Ti'Micas (ela, gritos e serras) e o Ti'Tó (ele, pilhagem sonora) estão a gozar com todos nós mas já ouvi dizer que já ganharam ódio pela Direita e pela Esquerda no melhor estilo "Laibach de Mirandela".
Há pormenores curiosos de samplagem e até dos textos - cantados, gritados, distorcidos - mas é tão sujo, violento e claustrofóbico que nem se percebe se é ao vivo ou se é uma javardeira de gravação à True Black Metal. Portanto, será que isto foi feita às "três pancadas" ou é para ficar mesmo assim - completamente oposto aos Diabo na Cruz?
O cariz popular e pagão desta Legião nada tem de fascismos New Age manhosos do Dark Folk - ponto positivo. Outro ponto positivo, também não há aqui Fado! Ou seja, há bom gosto no meio deste estrumeira sonora. é ponto acente, isto é para quem gosta de SPK e de túbaros! O resto que vá ler a Happy!

E por falar em gastronomia popular portuguesa que tal agora uma Cabidela? Outra banda com onda bizarra embora o som seja o típico Black Metal manhoso em que o é original são os barulhos de galinha e letras humorísticas como Rojões de Cristo ou Negra Degolação Galinácea. Não estou a gozar, Of Blood and Rice (Armagedão + Latrina do Chifrudo; 2009?) é um livro de receitas para qualquer pagão da província misantropo, ou então para qualquer urbanita com sentido de humor e ouvidos sujos. Duas criaturas cuidam deste projecto Galuh Desekrathor (gritos) e Rei dos Frangos (cordas e bateria), existem CD-R e não em k7 sabe-se lá porquê... mas se é por isso eis uma:

Josué, o Salvador em busca da Perdição / Profan (Bubonic + Enough; 2009?), split-k7 de uma banda meia Rock Psicadélico e banda Psy-Doom com uma sofisticação ao nível das bandas da Prophecy Productions... A primeira irrita um bocado pela sujidade e algum "retro", a segunda impressiona pela a dimensão épica e monstruosa. A capa é de André Coelho (MASSIVE, Destruição) e a sua versão a cores (e para CD) pode ser vista aqui.

Por fim, foi reunido numa edição única os dois primeiros CD-R's de Sektor 304, Primary Interface (2007) e Transmissions (2008), o primeiro é de estúdio e o segundo é uma improvisação. Qualquer um dos casos não muda o que escrevi anteriormente: SPK duramente puro e puramente duro. Lixado para ouvidos sensíveis e incultos. Não oiçam! É demasiado bom para depois dizerem que é só barulho!

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