terça-feira, 8 de setembro de 2009

Kramers Ergot




Não havia forma simpática de colocar as capas dos últimos números da antologia norte-americana Kramers Ergot - como aliás, não há formas simpáticas de arrumar estes monstruosos volumes nas prateleiras.
Mesmo que a bd esteja numa posição debilitada nos EUA - o que não é assim tão verdade seja como for, porque nos últimos anos tem entrado nos circuitos livreiros "normais", ou seja, para fora da loja especializada - esta terra será sempre a nação da bd e que me perdoem os belgas e japoneses. O Yellow Kid como marco do nascimento da bd é um disparate completo mas sem dúvida que marca a expansão da bd pelos EUA como um poderoso medium - até ao seu declínio popular a partir dos anos 50 com o aparecimento da TV. Mas apesar de tudo, talvez por causa da escala continental do país, tem sido lá que jorra uma fonte inesgotável de modelos: desde os "comic-books" dos anos 30 ao Comix dos anos 60, da Mad à Raw, passando pelos independentes dos anos 80 aos alternativos dos anos 90, da Kramers Ergot a...
Desde os anos 90 que apareceram montes de antologias como o Mutate & Survive (é um projecto próximo que serve de exemplo apenas) devedoras à segunda série da Raw. Talvez por isso que nos últimos 5 anos as antologias decidiram ultrapassar algumas fronteiras ou então porque muitos dos artistas precisam de "espaço", longe da "bd caderneta de cromos", ou seja, mais visual e mais experimental que formatos convencionais da bd norte-americana já não suportavam - é preciso não esquecer que o formato álbum nos EUA nunca foi vulgarizado como na Europa.
A Kramers Ergot aproxima-se mais de um conceito de livro de Arte ou do livro "coffe table", ou seja grande, expansiva e impressionante sendo um chamariz para os melhores dos melhores a participarem: Chris Ware, Jordan Crane, Marc Bell, Gabrielle Bell, o-mestre-o-mestre Gary Panter, Souther Salazar, Ron Rege Jr., Elvis Studio (presente no Salão Lisboa 2005 com a longa página Elvis Road), Tom Gauld, John Porcellino, Fabio Viscogliosi entre muitos outros menos conhecidos. Editado inicialmente pelo autor Sammy Harkham, a antologia actualmente é produzida pela Buenaventura Press sendo que os números anteriores ao seis encontram-se esgotados.
O número 7 já se tornou num "clássico" ainda antes de ter saído o ano passado quando foi anunciado que teria um formato superior a uma folha de jornal - ver a impressionante foto do livro e do seu editor aqui - com capa dura e uma "dream team" de participantes. Uma Lista? Aqui vai: Rick Altergott, Gabrielle Bell, os franceses Blanquet e Blex Bolex, o sul africano Conrad Botes (Bitter Comix), Mat Brinkman (do Fort Thunder), Ivan Brunetti, C.F., Daniel Clowes, Kim Deitch, Matt Furie, Tom Gauld, Matt Groening (criador dos Simpsons), Jaime Hernandez (Love & Rockets), Kevin Huizenga, Ben Katchor, o fantástico Anders Nilsen, o filandês Aapo Rapi, Ron Regé, Jr., Xavier Robel e Helge Reumann (Elvis Studio), a dupla francesa mais interessante do momento Ruppert & Mulot, Johnny Ryan, Richard Sala, Seth, Shoboshobo, Josh Simmons, a suiça Anna Sommer, Adrian Tomine, Chris Ware e mais um punhado de autores...
É o livro mais desagradável de pegar para ler e de guardar na estante. Mas é também um marco histórico - talvez só rivalizado por outro tijolo que foi o Comix 2000, editado pela francesa L'Association... Claro que os franceses e os norte-americanos nunca resolveram os seus problemas históricos (bedéfilos ou não) nem vão resolvê-los com a saída do K.E. - prevejo uma guerra intercontinental na bd. Ricos tempos!
PS - Claro, tinha-me esquecido... foi também nos EUA que foram criados os Super-Heróis - que são um género exclusivamente inventado na bd e em mais nenhum outro médium literário / narrativo. Como pude esquecer disso?

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