domingo, 13 de julho de 2008

Beatles ou Rolling Stones? Nirvana ou Pearl Jam? Blur ou Oasis? Protestante ou Católico?


Manuel Fúria "apresenta as Aventuras do Homem-Arranha" (Amor Fúria + FlorCaveira; 2008)
Tiago Guillul: "IV (2ªed.)" (FlorCaveira; 2007)

Se houver Historiador de Música para os anos zero do novo milénio, ele terá de dizer que nesses anos, em Portugal rompeu o movimento Panque Roque do Senhor! Um acontecimento tão bizarro como exótico como normal para quem viveu o pós-modernismo.
Começou com bandas Hardcore nos anos 90, evoluiu para o colectivo FlorCaveira que anda a fazer algum barulho nos media, ao ponto de já haver bandas cristãs a serem contratadas pela Universal. As origens do movimento são protestantes, sendo que já apareceu mais outro colectivo, Amor Fúria de origens católicas. Só falta aparecer o Rock Judeu e o Pop Allá se Portugal fosse mesmo democrático e laico (e laico!) mas como o HipHop e o Kuduro (a música de pretos, como se dizia) só foram aceites à pouco tempo, prevejo o aparecimento dos Ali Babá Core em 2035 e os The Shalom All Stars em 2036.
Como se bem sabe os católicos tomam xanax às escondidas (são depressivos e deprimentes) e são panascas não-assumidos porque há 2000 anos que adoram um Cristo ensanguentado e moribundo numa posição homoerótica manipulada pelo Vaticano - esse Império do Mal que se ao menos tivesse petróleo podia ser que o Bush já o tivesse bombardeado. Graças ao Catolicismo tivemos a Idade Medieval, verdadeiras Trevas sobre o Mundo Ocidental e que conseguiu destruir o Progresso atingido pela Grécia e Roma Antiga. Sendo eu um Satânico convicto recuso-me a dar tempo de antena a Católicos, eles que se fodam! Só refiro aqui o Manuel Fúria porque o seu disco de estreia é uma co-edição FlorCaveira.
Continuando a deambulação, neste Portugal Cristão e Católico (ergo atrasado) nada anda para algum lado, mesmo quando aparecem Punks e Metálicos, assim que podem voltam para o Cristianismo como o belo adágio "o filho pródigo à casa regressa". Chego quase a concluir que somos um país de "filhos do papá" (se faltar algum acento também não fica mal lido: Filhos do Papa) em que só os ricos é que podem ser Anarquistas ou gajos do Rock ou okupas, e que acabam por desistir das suas convicções (ou vendé-las da forma mais barata) por falta de "convicção económica". Ora o Protestantismo foi inventado pelos povos friorentos do coração europeu para poderem trabalhar mais sem as regras bacocas do Catolicismo - do tipo, mais vale trabalhar mais e ter mais dinheiro e conforto aqui e agora, do que esperar pelo bem estar Eterno no Paraíso... na realidade, os Católicos sempre foram sulistas (Portugal, Espanha e Itália) porque tinham a riqueza da expansão ultramarina e não tinham de se desenvolver intelectualmente ou artísticamente - leitura obrigatória: Viagem ao Fundo das Consciências: a Escravatura na Época Moderna (Colibri, 1995) de Maria do Rosário Pimentel. Daí que o ethos DIY (tão anglosaxónico como a Revolução Industrial) foi seguido pela FlorCaveira, um projecto mais furioso do que o Amor, e que tem criado este fenómeno em crescimento...
O trabalho não só liberta (outra grande invenção nórdica, hein!?) como dá frutos, ao ponto que o último trabalho de Tiago Guillul, (o disco do ano?) IV já vai na segunda edição com capa minimamente decente (finalmente!), embalado para ser vendido na FuNAC, com faixas extras (que bem!) e até um autocolante com os avais do Público, Time Out e do Henrique Amaro (Antena 3). Quem não conseguiu comprar no mercado-barato-underground, agora terá de tirar moedas da carteira para a segunda edição, é assim a vida.
O Manuel Fúria (o primeiro Católico no catálogo da FlorCaveira) pediu a Guillul para gravar / produzir um disco, Guillul deu-lhe a volta, fez com que Fúria esquecesse o som electríco, e levou-o para o "panque medieval" como qualquer católico merece: gravação "lou-fai", gravação caseira «em gloriosa baixa fidelidade», sem masterização (uma treta sonora que não se percebe porque se investe em tal coisa), «sound verité». Exacto: o som é bem captado, os arranjos bem esgalhados (quem ainda ligará à grande banhada que é Old Jerusalem depois da Revolução ProtestanteCaveira?), uma versão de Heróis do Mar (Amantes furiosos) mas no final achei as letras e a atmosfera meia xoninhas - o ódio ao catolicismo cegou-me?
Seja como for parece-me à partida que a Amor Fúria segue o modelo da FlorCaveira: gravação de CD-R's, aposta na língua portuguesa e no legado romântico e pop dos anos 80, um intenso programa de concertos, auto-ajuda entre bandas/projectos idênticos, etc... Acredito que poderão aparecer outros colectivos, religiosos ou não, a copiarem este modelo editorial-programático e até dando saltos maiores: criando associações legalizadas ou outras formas de profissionalização, alternativas na decadente e suposta indústria musical portuguesa - essa coisita muito beata como todos sabem, por falar nisso, quando temos um novo disco de Grind cristão!?
Por fim, é de referir que a capa do disco de Fúria é bem melhor que qualquer outra da FlorCaveira... os Católicos sempre gostaram mais de imagens! Amén!

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