terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Panque Rock e Cristo


v/a: "A Florcaveira apresenta: Cinco subsídios para o Panque-Roque do Senhor" (Florcaveira; 2006)

Quando se pensa que é nos Esteites que existe bizarria Pop... Pasmem-se! Nas colónias do império cultural norte-americano também se passam coisas peculiares e até com uma qualidade superior graças à nossa cultura europeia. Rock cristão poderia existir em Portugal? Cêus, será possível tal paradoxo? Sim! E as facetas mais agressivas em formato religioso também? Tipo Hardcore, Grindcore, Metal, Punk, ...? Pelos vistos sim também!
Lembrou-me que em 1997 tive acesso a um zine de Guimarães, Ancient Ceremonies, que não era só um espelho do Metal Cristão vindo da Austrália - a editora Rowe era a plataforma deste sub-sub-género, entre outros como o White Metal ou Unblack Metal - mas também divulgava dois projectos cristãos nacionais, os Hardcores Bibletoons e os Metales Spiritus. O zine era uma galhofa que várias vezes animou até ao choro e dor de barriga (Deus castiga!) em vários encontros de pagãos - vulgo, festas em casa de amigos regadas com álcool, drogas e conversa. E o que era um kitsch estranho nunca saiu da Igreja Baptista de Queluz de Baixo (havia ensaios abertos ao público aos Sábados de manhã) e entretanto apareceu uma nova vaga de bandas com a mensagem do Senhor entre guitarradas de Panque Roque. Uma família unida pelos vistos que lançam CD's e CD-R's pela editora Florcaveira.
Esta colectânea de que aqui falamos oferece-nos os Lacraus (Panque & Soule com muito humor - humor!?), Pontos Negros (indío-pope lamechas como é todo o Indie Pop), Samuel Úria & as Velhas Glórias (roque e role), Borboletas Borbulhas (Hardcore) e Jerusalém (Christian Grind - I shit you not!!!). O que se topa logo à primeira é o humor e inteligência das letras - um choque, claro, porque como sabemos os cristãos são estúpidos até à medula -, depois a gravação lo-fi (gravação caseira «em gloriosa baixa fidelidade, não foi masterizado, sound verité») que nada tem de desagradável dada à pica incrível destes guerreiros de Cristo! Ouvir este CD é quase voltar aos gloriosos anos 80 em que a energia e imaginação passavam por cima do "saber fazer" e quanto a isso, vale «Ouro, incenso e mirra» (desculpem a expressão).
Quase que me converto com as letras fabulosas como Querem-me mal as filhas de Belial / querem-me bem as filhas de Jerusalém ou Dentro de cada libertino há um rato de sacristia, ambas dos Lacraus; ou de Samuel Úria, a Malha do Afonso - um hooligan que vandaliza os comboios por onde anda, acaba por descobrir Deus e apesar de ainda sair «em cada estação, o Afonso já não saí da linha»; ainda, "Não há Happy Meals no Inferno" dos Borboletas Borbulhas... E claro, outro momento divinal são os grunhidos Death dos Jerusálem onde se ouve (percebe-se para quem tem ouvido para estes extremos sonoros) que estão a vomitar palavras de ordem como És o caminho para a salvação ou Quero-te dizer que te amo... Napalm Death eat your heart out!!!.
Como diziam os Bible Toons há 10 anos: «saí da crista da onda e entra na onda de Cristo!»

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Blue note

Biu (a) e Shiko (d)
Auto-edição; 2007

Álbum de bd a preto e branco feito por uma dupla brasileira que o auto-editou PONTO E do que trata PONTO DE EXCLAMAÇÃO Boa pergunta VÍRGULA porque eu não sei ao certo PONTO PARÁGRAFO
Na essência VÍRGULA o texto é poesia urbana cheia de referências literárias e musicais e o desenho lembra algum estilo europeu de bd dos anos 90 que cruza o naturalismo com alguma distorção caricatural (não sendo europeu o Will Eisner é uma referência para este estilo) PONTO Composto por cento e tal páginas (quase A4) o álbum impressiona porque sendo feito numa base amadora e por conseguir escapar (por pouco) ao convencional piroso PONTO FINAL PARÁGRAFO
Personagens antropomorfas VÍRGULA Mille Davis versão Robot, bonecas insufláveis que se humanizam VÍRGULA King Mob wanna-be VÍRGULA participação especial da Morte (irmã do Sandman!) cruzam-se em Rio Tinto (o brasileiro não o "nosso" lá para cima do Porto) VÍRGULA «cidade com mais aposentados por metro quadrado do país. O Estado, tão debilmente representado pela prefeitura, tem uma postura completamente paternalista. Suas tradições foram pasteurizadas, a a ignorância reina, a desinformação é grande, o consumo de álcool é maior, o forrogode come o centro, os boys pululam e pa fuder de vez... é aqui que eu moro!» (segundo o escritor desta bd).
3,5

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Dança dança dança

Tatsumaki + City of Industry + Devhour: "Seek and Thistroy" (Thisco + CM de Almada; 2006)

Sinergia de Electrónica funcional (dançável) e nacional, este CD compila 15 faixas de três projectos diferentes mas bastante coerentes entre si. Cada projecto teve direito a cinco músicas que quase se confundem as suas autorias dada que a exploração sonora ser limitada aos géneros Electro, Drum'n'Bass e Techno de tendências industriais, sujas e negras. Mas há destaque! E ele surge nas colaborações do bracarense (e não-nipónico) Tatsumaki em que o ruído e o groove tem uma simbiose mais apurada - em comparação com os outros projectos.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

CCC@Angoulême 2007


We here at the 34th edition of the Comics Festival of Angoulême with some of Chili Com Carne, El Pep and MMMNNNRRRG editions in the Argentian La Productora and Ex Abrupto stand (in the Alternative Comics "Bulle") - gracias, chicos!
Also, a Joana Figueiredo comic was represented in the Comics World Expo...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

escola argentina, penúltimo capítulo

Nas novas mexidas globais como seria de esperar, a Argentina não podia ficar de fora e abraçar os paradigmas do Novo Novo Mundo, por isso, não é à toa que falo a seguir de Revue Ex Abrupto #2 (Ex Abrupto; 2005) e de Suda Merry K. recopilatório (ABC; 2006), revistas que se parecem com livros e em que em comum tem o editor francês Thomas Dassance que partiu para a Argentina em 1999.
No primeiro caso, a revista está em francês e apresenta-se como uma revista de «experimentação gráfica e narrativa» com colaborações de peso como o José Muñoz e o Carlos Nine (capa) eautores menos conhecidos como Max Cachimba e Julian Taborda. O objectivo é dar a conhecer o talento sul-americano nas terras gaulesas. Até se come "a coisa" apesar dos altos e baixos (como repararam alguns autores são amadores e outros são mestres como Muñoz) mas a legendagem horrível em TODAS as bd's acaba por condenar a revista. Nem o seu ar altivo (à francesa?) e suplementos escondidos a salvam do estigma do "tiro ao lado" [3]
Suda Merry K. tem um ar mais humilde (foi editado em castelhano) consegue ganhar vários pontos acima. É uma revista de esforço tripartido entre o Ex-Abrupto, Viñetas con Altura (Bolívia) e Feroces Editores (Chile); e junta autores europeus como o suiço Thomas Ott (com um trabalho de Recuerdos de Mexico) e o espanhol iconoclasta Miguel Brieva e vários sul-americanos de vários países nas suas páginas em que destaco o peruano Jorge Ruibal (na imagem em baixo) a lembrar vagamente a Kaz e outros gráficos selvagens. O presente volume recompila os dois primeiros números da revista em versão melhorada. [4]
Com um Presidente argentino (Muñoz) para a próxima edição do festival de bd do mundo (Angoulême 2008), ainda não se escreveu o último capítulo da historieta. Estejam atentos, muito atentos...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

escola argentina, antepenúltimo capítulo

Tempos houve que existia um tipo de bd sul-americana, chamada de Escola Argentina, de onde surgiram gente como o Alberto Breccia ou José Muñoz (reconhecido este ano em Angoulême com o prémio máximo do evento), ou o italiano Hugo Pratt que por lá passou. Foram tempos de trabalho árduo num medium popular como era o da bd. Como sabemos a bd foi perdendo a importância popular, e os mercados mudaram com as investidas dos gigantes económicos "comics" norte-americanos e Manga do Japão, para não falar ainda da ditadura. A crise económica cada vez mais forte na Argentina e o seu fundo dramático de Dezembro de 2001 estoiraram de vez com as últimas hipóteses da historieta de se recuperar.
Mas como a humanidade é feita de corpos e anti-corpos, tem aparecido pequenos resistentes - daqueles que não foram trabalhar para Espanha ou para os EUA - como é o caso da La Productora, um colectivo de autores / editores que tem experimentado uma série de soluções editoriais na nova realidade argentina. Já possuem um catálogo considerável (para uma pequena editora) porque por um lado apostaram em "comics" nas bancas numa onda "trash gótico-fantástico" e respectivo desenho naturalista. Para mim, são pouco interessantes e fico pelos livros que também tem editado. É o caso de Carne Argentina sobre o qual já escrevi nos "tempos gloriosos" do Entulho Informativo (#15) e nada tenho a acrescentar a não ser que o que aqui anuncio é a reedição argentina de 2003, mais pequena que a edição da Under Cómic (de Espanha). Este ano o livro teve uma edição francesa pela Éditions Minuscules.
Morón Suburbio (2005) é a compilação dos "comics" homónimos (um deles com edição espanhola pela Under Cómic) de Angel Mosquito (que participou no Mutate & Survive) e de uma estória de um número da colecção miniTonto. Para mim o autor menos virtuoso da carrada de bons desenhadores que existem por aquelas bandas mas é sem dúvida o mais divertido de todos. As suas estórias de Western contemporâneo sul-americano são de um terror para qualquer europeu burguês (como eu) pela forma como ele mostra a violência nestes ambientes exóticos onde por acaso também existem "McKakás". Fico na dúvida se a violência é ficcionada ou se pode ser real - fogo, eu é que não quero ir para a Terra do Satã! A edição de formato A5 não é lá muito boa - nem o papel - mas é a crise, cabrón primeromundista! [3,8]


Morón Suburbio à venda na Chili Com Carne a 10€. Desconto 50% a associados

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Samizdata Club especial THISCOvery CCChannel

e-flyer de Daniel Lopes

Próxima edição - a 13ª - do Samizdata Club será AMANHÃ no Espaço - Centro de Desastres em que o trabalho das associações Thisco e Chili Com Carne estarão em destaque.

A primeira traz-nos Jam session II - gravação para edição em CD pela Thisco com Euthymia + shhh + Thermidor + Structura + M-PeX + Mikroben Krieg + convidados

Dando continuidade à aclamada jam da FNAC do Forum Almada que motivou todos os participantes, leva-se a cabo mais uma edição, com gravação para posterior edição em CD.
Esperam-se mais de quatro horas preenchidas por musicalidades ambient, break beat, dark-ethno, spoken-word, electro-industrial, em contraponto, fusão ou pura sintonia. Música criada no momento ao sabor dos intervenientes.

www.myspace.com/mpex / www.myspace.com/structura / www.myspace.com/mikroben / www.myspace.com/shhhspace / www.myspace.com/euthymic / www.myspace.com/thermid0r

A segunda oferece-nos à Entrada (2€) livros manuseados - limitado ao stock existente - uma óptima oportunidade para conhecer o catálogo de BD/literatura/ilustração da Chili e/ou dos seus associados como a
MMMNNNRRRG.

...

Na banca da Thisco, ainda, oferta limitada do pack de EDIÇÕES de 2006 + sweat shirt “Thistroy!” por 30 euros.