quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Em Portugal o Hip hop não tem armas e putas finas...

v/a: "Sensei D apresenta Hip Hop - Estratégias de auto-evolução - Parte 1: Mixtape" (Sensei D + Breakfast; 2006)
v/a: "Horizontal Records apresenta Poesia Urbana, vol.1" (Horizontal; 2004)

Duas colectâneas, uma comprada e outra de oferta, resultado da visita à loja Low Budget situada no (abandonado) Centro Comercial Portugália. Comprei a Poesia Urbana e o simpático dono da loja ofereceu a "mix-tape" Estratégias de auto-evolução, em formato CD-R (possível de descarregar na 'net pelo link do Sensei D). O que comprei acabou por ser menos interessante que a oferta... Ao contrário da Poesia que tem os grandes cromos da cena HipHop nacional (como Sam the Kid, Fuse, Kacetado, Tekilla) em Estratégias não me parece que haja "estrelas" sendo eu leigo na cena - tirando os Factos Reais (identificados como FR) que reconheci em algumas faixas nunca ouvi falar em nenhum dos participantes. Sendo uma mix-tape (*) é natural a fluidez da sessão ou da gravação, e até os erros da improvisação. Aqui há de isso tudo e corre sinceramente bem mesmo quando haja momentos mais fracos ou imbirrantes. Consegue ser eclético com doses de Rap, Scratch, R'n'B, Ragga, discursos inflamados ou divertidos ou óbvios que batem no ceguinho ou convencidos e outros poemas. Até se ouve crioulo e francês algures nas várias faixas. Mas é sobretudo a parte instrumental que é a mais-valia desta "mix". É forte, batendo num HipHop mais "clássico" - mais som Black e old-school do que o "sinfónico foleiro samplado" que tem sido tendência nas produções dos últimos anos.

Poesia urbana também é eclético só que funciona com demasiados altos e baixos. Os altos são passantes como o Kuduro-Hop Ragga-crioulo debitado em energia ultra-veloz dos Nigga Poison que depois da faixa lamechas-paneleira de NBC ganha logo o título da "melhor música do CD". É um power aquilo! Mas dizia que este disco andava numa montanha-russa, cujo pico é atingido com a faixa de Valete que rapa a letra mais imbecil que já ouvi em 33 anos de vida!!! Nem que fosse uma brincadeira provocatória teria piada: juntar o sentimento anti-americano à barbárie Taliban é bastante estúpido e infantilóide, demonstra sobretudo uma ignorância do pior! Felizmente em contra-picado temos a Anarquia propagada por Ikonoclasta que demonstra inteligência. Ignorem Lince, outra paneleirice pegada e tirando o "verdadeiro poeta urbano" Xeg, o resto é mediano - o que em Portugal, HipHop mediano significa estar acima da média da música urbana que passa nos mass-media. A militância deste movimento e até alguma mensagem de alguns destes projectos lembram-me o dogmatismo do Hardcore Straight Edge dos anos 90... A amplitude do movimento já mostrou ser capaz de gerar génios, imbecis e talentos medianos - o retrato recente (mesmo já sendo de 2004) é este, para o melhor e para o pior.

(*) Conjunto de músicas misturadas pelo DJ para que os MC's possam cantar/rapar por cima.

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